segunda-feira, 26 de setembro de 2016

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As regras podem ser criadas e reinventadas! Vejam: Uma criança joga o dado, seleciona o número de tampinhas relacionadas a quantidade tirada no dado e coloca na copa da árvore. Corresponde a primeira parcela da operação. Joga o dado novamente e repete os passos anteriormente citados. Adiciona-se utilizando o sinal da adição. Conta-se a quantidade de tampinhas colocadas na copa da árvore e atribui-se o resultado final!!!

fonte:fabriciabiasoblogspot.com.br


Alfabetização e Letramento, da teoria a prática





Alfabetização e Letramento, da teoria a prática
Karina Thetinski Rodrigues e Márcia de Oliveira Soares

Na área da alfabetização, grandes avanços aconteceram nos últimos anos. Pesquisas e teorias de Jean Piaget, Emília Ferreiro, Vigostsky, Paulo Freire e outros foram de extrema relevância e significado. Estas teorias muito contribuíram para a pratica pedagógica, principalmente para a alfabetização, cuja prática, há dezenas de anos não se alterava. Em meio a tantos anseios, dúvidas e questionamentos que acompanham o processo de alfabetização e percebemos que muitos educadores ainda vêem a alfabetização como um processo estanque as demais séries, desenvolvendo um trabalho voltado para a prática sem um embasamento teórico conciso e resumindo a alfabetização num simples ato de decodificação de símbolos onde se utilizam de uma metodologia única para todos, esperando que a criança tenha o estalo para se alfabetizar é que buscamos elaborar técnicas e atividades que auxiliassem não apenas o processo de aquisição de linguagem e escrita, mas que também dessem sentido a ele, proporcionando assim, o letramento. Portanto, refletir sobre o processo de alfabetização é percorrer um mundo de magia e encantamento o qual ainda tem muito para ser descoberto. É ter consciência de que a alfabetização não é decodificar símbolos pelo simples fato e sim dar compreensão e posicionamento do que vê, lê e vive. Enfim, como afirma Paulo Freire “ser alfabetizado... é estar presente e ativo na reivindicação da própria voz, da própria história e do próprio futuro”. (FREIRE & MACEDO, 1990:11)Sendo o processo de alfabetização e letramento um acontecimento que pode ser estendido ao longo de nossas vidas, o presente artigo, pretende explorar apenas a alfabetização de crianças.
A HISTÓRIA DA ALFABETIZAÇÃO: Os sistemas de escrita estabelecidos na história dos povos nunca foram privilégio de ninguém. De acordo com fatos comprovados historicamente, a escrita surgiu do sistema de contagem feito com marcas, provavelmente para contar o gado.Nessa época de escrita primitiva, ser alfabetizado significava saber ler o que aqueles símbolos significavam e ser capaz de escrevê-los. Assim, com a expansão do sistema de escrita, a quantidade de informações necessárias para quem soubesse ler e escrever aumentou consideravelmente, o que obrigou as pessoas à usarem cada vez mais símbolos que representassem sons da fala, como por exemplo, as sílabas.Na antigüidade, os alunos alfabetizavam-se aprendendo a ler algo já escrito e depois copiando. Começavam por palavras, depois por textos famosos até que começavam a escrever seus textos próprios. O segredo da alfabetização era a leitura e a cópia. Dessa forma, pode-se perceber que a má compreensão da alfabetização é tão verdadeira para o passado quanto para o presente. GRAFF (1994:27) afirma que: “a alfabetização... é profundamente mal entendida” o que possibilita a nós, perceber que esta construção equivocada de significados vem se arrastando ao longo dos anos.
ALFABETIZANDO COM SUCESSO: Sabe-se, que a leitura e a escrita são instrumentos básicos para o ingresso e participação na sociedade letrada em que vivemos. São ferramentas para compreensão e realização da comunicação do homem na sociedade e chave para a apropriação dos saberes já conquistados. Por meio da alfabetização, o homem se torna um ser global, simbólico, social, enfim, um cidadão inserido na sociedade.Assim, pode-se concordar com CÓCCO e HAILER (1996:9) quando afirmam que: “Saber ler e escrever é condição necessária Desta forma, aprender a ler e a escrever é apropriar-se do código lingüístico, é tornar-se um usuário da leitura e da escrita. Uma aprendizagem mecânica do ler e escrever, que não se apoie sobre idéias e conhecimentos adquiridos pela criança sobre a língua escrita, que não venha acompanhada de uma real compreensão dos usos e funções da linguagem, que não esteja sustentada em um interesse comum, em comunicar e compreender, é totalmente inútil a participação na sociedade letrada em que vivemos. É pré-requisito para a cidadania”. Pode-se perceber a partir do trecho acima que a alfabetização vai muito além do decifrado. A alfabetização é um processo de aprendizagem conceitual onde o sujeito emprega a sua lógica sobre a língua escrita para poder aprendê-la e entender o seu significado.FERREIRO (1986) ainda afirma que: “Ler não é decifrar, escrever não é copiar”. A escrita da criança não resulta de uma simples cópia de um modelo, mas é um processo de construção, onde reinventam a escrita, no sentido de compreender seus processos de construção e suas normas de produção.Ler e escrever são, de um lado, processos que envolvem o relacionamento entre símbolos escritos e unidades sonoras; mas, por outro, também são processos de construção de interpretação de textos escritos (leitura) e de expressão de idéias e de organização de pensamento (escrita). Portanto, ler e escrever o seu próprio nome ou um simples bilhete, ou até mesmo, ler apenas para decifrar o que está escrito é muito pouco para uma sociedade letrada como a nossa. O cidadão que sabe ler é aquele que consegue dar sentido ao material a que tem acesso. É ler o mundo o tempo todo. Enfim, estar alfabetizado é dar compreensão e posicionamento crítico do material e da realidade vivida, sendo este, o conceito de letramento.
As fases da criança para a construção do pensamento em relação a língua escrita
No contexto escolar ainda é muito comum encontrarmos professores que ao perguntarmos como ocorre a aprendizagem da língua escrita respondem: “A criança vai juntando as sílabas e formando as palavras, de repente dá na criança um estalo e ela passa a ler e a escrever”. Na verdade, vemos que o que acontece não é nenhum sobrenatural e muito menos um estalo. Os estudos de Emilia Ferreiro e outros pesquisadores contribuíram para a prática pedagógica testando e organizando as concepções da criança sobre a linguagem, mostrando em seus estudos que a alfabetização é um longo processo, em que o aprendiz observa, estabelece relações, organiza, interioriza conceitos, reelabora, até chegar ao código alfabético.
Assim, da mesma forma em que todo o ser humano passa pela infância, adolescência até chegar a vida adulta, a criança para construir e reconstruir o código lingüístico apresenta fases ou níveis de desenvolvimento para a construção do pensamento em relação à linguagem escrita.
Nível pré-silábico: A escrita é concebida como um desenho. Lê em gravuras, fotos e outros. Dividindo-se em duas fases:Fase pictórica: fase caracterizada pelas garatujas, desenhos sem e com figuração.Fase gráfica primitiva: são registros, símbolos e pseudoletras, onde letras e números são misturados. Nesta fase a criança questiona muito o adulto sobre as coisas que vê no meio que a cerca.Fase pré-silábica: nesta fase propriamente dita a criança já difere as letras dos números, desenho e símbolos e já reconhece o papel das letras na escrita.
Nível silábico:Nesta fase surge a tentativa de dar um valor sonoro a cada uma das letras que compõe uma escrita. É um período de maior importância evolutiva, pois é o surgimento do que Emilia Ferreiro denominou “hipótese silábica”, em que cada letra vale por uma sílaba. A hipótese silábica pode aparecer com sinais distantes das letras do alfabeto ou aplicar-se a letras sem que se lhes atribua valores sonoros estáveis. Mas ainda nesse período, as letras começam a adquirir valores sonoros (silábicos) com certa estabilidade, estabelecendo-se uma correspondência com o eixo qualitativo: as partes sonoras semelhantes entre as palavras começam a se exprimir por letras semelhantes, o que também é fonte de conflito para a criança quando, por exemplo, produz uma mesma escrita (AO) para palavras diferentes tais como pato e gato.O conflito entre as hipóteses internas – silábica e de quantidade – é resolvido “acrescentando” um numero maior de grafias que as previstas. Assim, as palavras dissílabas que deveriam ser escritas com duas letras passam a ter três, para atender a hipótese de quantidade mínima, mas conflita com o fato de uma das letras não ter uma emissão possível.O nível silábico caracteriza-se, portanto, pelos aspectos que se seguem: Ao descobrir a silaba na fala (e não escrita) a criança sabe que a escrita vincula-se à pronúncia das partes da palavra (hipótese de que a silaba oral corresponde a uma letra);Tem dificuldade para escrever monossílabos e dissílabos por entrar em conflito com a exigência da quantidade mínima de letras;Na escrita de palavras tem a preocupação de não repetir letras;Quando silábico convicto, usa para cada som que emite, uma letra. Não há sobras; Pode ou não conhecer o valor sonoro convencional das letras e saber utilizá-las;Pode misturar letra com número na escrita de palavras, apesar de diferenciá-las;Lê apontando para cada letra;Leitura silábica;
Nível silábico-alfabético :A criança ensaia diversas soluções de compromisso sem conseguir absorver as perturbações que surgem e o abandono da hipótese silábica torna-se necessário. Apenas buscando uma divisão que vá além da sílaba, isto é, procedendo a uma divisão da sílaba em sons menores, é possível à criança superar o conflito.Porém, isso não acontece de imediato. Durante este período ocorrem grandes oscilações entre escrita silábica e alfabética, dando lugar a leituras e escritas que geralmente começam silabicamente e terminam alfabeticamente.As principais características dessa fase de transição entre o silábico e o alfabético são: A criança pode acrescentar mais letras em uma palavra para representar o som de uma sílaba; Pode ou não usar o valor sonoro convencional; Começa a fazer sílabas completas nas palavras com mais freqüência quando estas palavras estão em um contexto; Começa a fazer a relação grafema/fonema; Ainda não descobriu a relação existente entre consoante e vogal, ou seja, que a vogal muda o som da consoante; Em relação à leitura, é uma fase de grande conflito para a criança que pode ainda ler globalmente.
Nível alfabético:A escrita alfabética constitui o final desta evolução. Ao chegar a este nível a criança já compreendeu que cada um dos caracteres da escrita corresponde a valores sonoros menores que a sílaba, e realiza sistematicamente uma análise sonora dos fonemas das palavras que vai escrever.Descobre que não basta uma letra por sílaba e que também não se pode estabelecer nenhuma regularidade duplicando a quantidade de letras por sílaba (já que há sílabas que se escrevem com uma, duas, três ou mais letras).Tudo isso, não significa que todas as dificuldades tenham sido superadas, pois a partir desse momento, a criança terá de se haver com as questões ortográficas (pelo lado qualitativo), uma vez que a identidade de som não garante a identidade de letras, nem a identidade de letra, a de som.A criança finalmente já percebe a estrutura e o funcionamento do sistema de escrita porque apropriou-se desse conhecimento através de sua re-construção.
QUANDO INICIA O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO?
É possível afirmar que o processo de alfabetização inicia quando ainda somos bebês, quando escutamos uma cantiga, quando ouvimos a voz carinhosa daqueles que nos afagam, quando manuseamos um livro, quando, finalmente, começamos a ver o mundo a fazer interpretações do espaço e das pessoas ao nosso redor.Não é nenhum problema dar início a alfabetização formal ainda na educação infantil, basta que este processo seja privilegiado através do lúdico e de atividades coerentes a cada faixa etária. Atividades mimeografadas ou xerocadas para pintar ou colar sem nenhuma outra finalidade, trabalhar letras soltas e desconexas, com a intenção de ler só por ler, contribuem pouco ou nada para este processo. A criança nesta fase, ainda é um ser inseguro e delicado e seu mundo é egocêntrico e fantasioso. As particularidades desse desenvolvimento devem ser respeitadas e não devemos querer que este aprendizado acontecesse antes que ele realmente seja possível. Isso, não significa que a criança não deva ter contato com o mundo da escrita e da leitura, até pelo contrário, deve-se propiciar a criança o maior acesso possível a livros, revistas e jornais, possibilitando o manuseio destes diferentes tipos de materiais.
CORRIGIR OU ACEITAR – O ERRO NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO?
Uma das maiores dúvidas quando se fala em alfabetização, é sobre o papel do erro neste processo. O que fazer? Como lidar com tentativas frustradas de escritas? Corrigir ou aceitar?Partindo do princípio de que o erro é um processo de construção, que a criança só erra porque busca o acerto, devemos ter em mente que ele é fator fundamental no processo de aprendizado. Se a criança copia por copiar, cometerá erros referentes à falta de atenção, por não identificar uma ou outra letra, mas quando o erro é fruto da construção espontânea, onde mais do que codificar ou decodificar um símbolo, é o entendimento e a expressão de uma idéia o que se busca, o erro acontecerá com mais freqüência. Devemos, então, observar em primeiro plano, o nível de aquisição da escrita em que a criança se encontra, pois cada nível possui suas particularidades e erros comuns a esta etapa. A correção é importante, cada vez que a criança repete o erro, pois o considerando como as opções certas estão permitindo que a realização deste exercício motor, reforce a escrita incorreta no processo mental. Logo, é natural a criança reproduzir na escrita espontânea, aquilo que escuta quando fala (Kasa para casa), no entanto, reforçar este modelo, não contribuirá para a escrita correta. A melhor alternativa, seja em qual for a etapa em que a criança se encontra, é criar um conflito, para que ela elabore novas hipóteses para a escrita da mesma palavra.Na escrita espontânea, a criança por si, se dá conta de que há um erro, com isso, busca freqüentemente o auxílio do educador para mostrar o que escreveu. Quando damos um elogio para um erro, além de reforçar a escrita incorreta, corremos o risco de cair no descrédito, pois a criança se dá conta que não é preciso escrever da forma correta e, logo, deixará de buscar o auxílio do educador. Há várias formas de fazer uma intervenção, seja com questionamentos ou apenas mostrando a criança como se escreve. Ter em sala alfabeto móvel e outras formas de visualização deste recurso, favorece a observação e a comparação da produção espontânea, com a forma correta de escrever. . Por isso, nesta fase de alfabetização, os exercícios que favorecem noções topológicas, desenvolvem a motricidade e a lateralidade, colaboram tanto para a escrita correta de palavras.
Conclui-se então, que observando uma criança vemos que ela aprende a engatinhar, a andar, a correr por si mesma, nunca por meio de lições verbais dos adultos, mas muito através da necessidade e da imitação. A vida da criança é uma sucessão de experiências de aprendizagem adquirida por ela mesma, quando tem a oportunidade de interação. Ao chegar à escola, ela traz consigo infinitas experiências e conhecimentos acumulados, conquistados por meio de exploração visual, auditiva, jogos, brincadeiras, conversas, passeios, contatos, brinquedos, que influenciarão no processo de aprendizagem.
No processo de aprendizagem da leitura e da escrita, a criança defronta-se com um mundo cheio de atrações (letras, palavras, frases, textos) e se engajará neste mundo muito mais facilmente se puder participar integralmente dele e se o processo for transformado num grande ato lúdico (participativo, inteligente, prazeroso), em oposição ao ato técnico (estático, repetitivo, mecânico) muito próprio das escolas. Portanto, podemos perceber a necessidade de se relacionar o processo de alfabetização com o lúdico, na forma de jogos e brincadeiras, que despertam o interesse e arrebatam a atenção das crianças, tornando este processo recheado de significado.



CARTA DE ANTONIO



Vamos refletir!
CARTA DE ANTONIO
“Quando eu vim para São Paulo, não sabia ler e fui trabalhar na construção, como ajudante. Foi lá que eu senti que precisava aprender um pouco, porque ficar a vida toda fazendo massa e carregando areia não ia dar. Eu nem sabia que tinha escola pra adulto. Mas não sei se ia lá não. Eu achava uma vergonha ficar exibindo que não sabia. Pensei, então, em aprender sozinho.
Toda noite pegava um pedaço de jornal que achava na obra, ou mesmo na rua. Fiquei muito tempo só olhando as letras. Foi aí que eu vi que tinha letra que aparecia muito, toda hora aparecia, e outras que eram difíceis de aparecer. Uma coisa que eu também vi é que tem letra que não fica no fim das palavras. As do fim eram a, s, o, l, m e algumas outras. As letras que não podiam ficar no fim eram como g, t, q, v, f. Vi também que só poucas letras, como o, e, a, ficavam sozinhas. Tinha palavras de duas letras, não eram muitas.
Comprei um caderno e fui fazendo cópia das letras.
Um dia fiquei sabendo que meu nome estava escrito na identidade. Minha namorada me mostrou onde estava o nome e eu fiquei escrevendo até saber ele todo de cor. Comecei a achar pedaço do meu nome em todo jornal que eu pegava. Um dia achei Antônio inteiro lá, no retrato de um homem que parecia muito importante. Já tinha visto ele na televisão.
Agora, eu aprendi mesmo, foi quando fiquei olhando pras placas. Na minha obra, tinha o nome da construtora: SEABRA. Brasil era o nome que estava no caderno que eu comprei. Brasil e SEABRA ficavam muito parecidos quando estavam escritos. Do jeito que começa Brasil acaba SEABRA. Fui aprendendo a ler e escrever uma porção de nomes: Antônio, Seabra,casa, São Paulo, rua, avenida, Santana, Ceará, Maria.
Fui tentando um poquinho aqui, olhando o que já sabia, fazendo uma perguntinha ali e de repente foi como um susto, porque estava lendo tudo. Fiquei tão satisfeito que escrevi uma carta pra minha mãe que mora no Ceará.”
Antônio Costa de Abreu, transcrito de Poetizando: livro do educador, do Vereda – centro de Estudos em Educação, São Paulo, 1994.

Comentários – Carta do Antonio
A partir desse relato, podemos levantar alguns pontos para reflexão: para aprender a ler e escrever, é preciso encontrar um sentido, um objetivo para essa aprendizagem. Considerando a alfabetização um meio para melhorar de vida, Antônio mobilizou-se para isso quando se percebeu como adulto analfabeto.
Será que os alunos estão percebendo um sentido para aprender?
O que a escola pode fazer para que a leitura e escrita adquiram esse sentido?
Antônio tinha vergonha de exibir que não sabia. É muito comum crianças maiores, adolescentes e adultos analfabetos sentirem-se assim. Às vezes, essa vergonha se manifesta em reações de indisciplina, outras em indiferença, um “dar de ombros”, recusar a ajuda do professor ou dos colegas e outras manifestações que você conhece bem. Antônio conseguiu superar a vergonha e foi em busca do conhecimento. Os alunos também podem superá-la.
O autor do relato não comprou uma cartilha, mas lançou mão do jornal e passou a observar o que estava escrito nas placas e no documento de identidade. É como se intuitivamente soubesse que a melhor forma de aprender a ler e escrever é a partir dos usos que a escrita tem na sociedade: “Fiquei muito tempo só olhando as letras. Foi aí que eu vi...”. O contato com o texto (jornal, placas, nomes) fez com que Antônio pensasse sobre a escrita e fosse descobrindo algumas regularidades do sistema alfabético.
Aparentemente, Antônio aprendeu sozinho mas, na verdade, contou com a colaboração de outras pessoas, que lhe deram informações importantes sobre a escrita: a namorada mostrou onde estava escrito o nome – inicialmente a palavra mais significativa – e todas as pessoas que responderam às suas perguntas (“fazendo uma perguntinha ali e de repente...”). Com certeza, não foi esforço – e que, no entanto, quando começa, não pára.
Concluindo, poderíamos dizer que, para se alfabetizar, é preciso:
compreender para que serve a escrita e atribuir significado a ela. Isso só é possível se ela for trabalhada na sala de aula em seus usos sociais; por isso é que os alunos não-alfabetizados devem participar de verdadeiras situações de leitura e escrita. O fato de não estarem alfabetizados não deve ser impedimento para que participem e, sim, mais um motivo para isso. Quando você (ou um colega alfabetizado) lê para o aluno, ele também é leitor, porque atribui sentido ao texto lido. Quando você (ou um colega alfabetizado) registra as idéias do aluno não-alfabetizado num texto coletivo, ele também é autor do texto;
perceber o que a escrita representa e como ela se organiza. O contato com diferentes gêneros permite que o sujeito internalize as diferentes formas de organização textual e descubra o que a escrita representa e como se organiza. Por isso enfatizamos o trabalho com diferentes tipos de texto e listas de palavras organizadas, com os alunos, dentro de um mesmo universo de significado. Com esse objetivo, também, temos insistido para que explorem as rimas e utilizem jogos que levem ao reconhecimento de letras, destaque de letras iniciais e finais, relação entre som e grafia etc.
Procure sensibilizar a classe para ajudá-los. Muitas vezes você pode pensar que está prejudicando os alunos alfabetizados, quando dedica uma parte do dia para dar uma atenção especial aos que ainda não lêem convencionalmente. No entanto, a responsabilidade social pelos analfabetos deve ser de todos e, na escola, junto com os conhecimentos das diferentes áreas, também se ensina a solidariedade. Dedicando-se aos não-alfabetizados e mobilizando os alunos já alfabetizados para que colaborem, você estará dando um exemplo de cidadania e, quem sabe, lançando sementes para uma sociedade mais humana.
Referência
Poetizando: livro do educador, do Vereda – Centro de Estudos em Educação, São Paulo, 1994.